Vitória (ES), 8 de outubro de 2025. Créditos: Sto Rei e Impacto/Confea

quarta, 08 de outubro de 2025

Engenheiros e lideranças políticas apresentaram caminhos para projetar um futuro promissor para o Brasil durante o CNN Talks, realizado nesta quarta-feira (8), na programação do terceiro dia da 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), em Vitória (ES). 

O governador do Espírito Santo e engenheiro florestal Renato Casagrande destacou que o país vive um momento ímpar. “Temos oportunidades de avançar na economia verde, com energia renovável e biomassa, por exemplo. O que precisamos é ter equilíbrio fiscal e das contas públicas, parcerias com o setor privado e fortalecimento das nossas instituições públicas”, afirmou durante o painel “Inovando e projetando o Brasil do futuro: visão política e experiência técnica”, mediado pela analista de política da CNN, Clarissa Oliveira.

Presidente do Consórcio Brasil Verde, que reúne 21 entes federados voltados ao enfrentamento dos efeitos adversos das mudanças climáticas, Casagrande reforçou a importância da atuação técnica na construção de políticas ambientais. “Além disso, cada estado pode dar sua contribuição para o plano climático nacional, onde o engenheiro e o agrônomo têm papel essencial”, completou.

O presidente do Confea, eng. telecom. Vinicius Marchese, disse que o avanço do país depende do resgate dos jovens estudantes de engenharia e da valorização profissional. “Hoje, de 100 pessoas que entram na graduação, 35 terminam o curso. É uma evasão de 65% causada por falta de conhecimento de base, como matemática. Desses 35, apenas 15 diplomados vão buscar o registro no Crea para atuar na área. Então, o que precisamos fazer é melhorar o ensino de base e atualizar a metodologia dos cursos de ensino superior para que sejam atrativos para as novas gerações e que tenham atividades práticas desde o início da graduação”, sugeriu. 

Marchese salientou ainda as ações do Confea voltadas ao fortalecimento das profissões do setor. “A fiscalização do cumprimento do piso salarial tem sido prioridade dos Creas para que haja valorização profissional nos estados. Também estamos construindo um plano de capacitação para os profissionais que têm interesse em atuar na área de parceria público-privada para ajudar o Brasil a destravar a construção de obras públicas”, anunciou.

A proposta foi bem recebida pelo governador capixaba, que ressaltou o investimento do Estado em infraestrutura. Casagrande lembrou que o Espírito Santo destina 20% do orçamento à área, enquanto outros estados aplicam, em média, 7%. “A aposta para melhorar o Brasil também passa pela parceria público-privada, que gera atividade econômica, oportunidades de emprego e empreendedorismo”, afirmou, observando que o governo estadual investiu R$ 4 bilhões em infraestrutura em 2024, valor que deve ser repetido neste ano.

Encerrando o painel, Marchese reforçou a importância da aproximação entre gestores públicos e especialistas técnicos. “Em conversa com governantes, eu sempre pergunto quais são os problemas do município ou do estado para que o Confea possa ajudar a resolver”, disse, sinalizando a disposição da instituição em colaborar com a administração pública por meio de diálogos, convênios e da atuação direta de engenheiros, agrônomos e geocientistas nos processos de tomada de decisão.

Engenharia e gestão pública: boas práticas e parcerias  
Fortalecer a interlocução entre os setores público e privado foi o mote do segundo painel do CNN Talks, que abordou o tema “Engenharia e gestão pública: como construir caminhos para a valorização dos profissionais”.

O prefeito de Vitória (ES), Lorenzo Pazolini, apresentou exemplos práticos de como o trabalho de engenheiros, agrônomos e geocientistas tem contribuído para entregar grandes projetos e melhorar a qualidade de vida da população. “Vitória é a primeira colocada entre as cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil”, informou.

A capital capixaba conquistou o topo do Ranking Connected Smart Cities (CSC) 2025, premiação que reconhece ações inovadoras que impulsionam os municípios rumo ao conceito de cidade inteligente. Com nota 61,27, Vitória superou Florianópolis (SC), Niterói (RJ), São Paulo (SP) e Curitiba (PR), respectivamente, após ocupar o segundo lugar em 2024. Além disso, garantiu o 1º lugar na Região Sudeste e entre as cidades com menos de 500 mil habitantes. A cidade também foi destaque no Reconhecimento Banco do Brasil – Experiência do Cidadão (Sudeste), que valoriza administrações focadas em colocar a população no centro das políticas públicas, assegurando serviços mais eficientes e acessíveis.

Outro exemplo de integração entre engenharia e gestão pública foi apresentado por Fábio Oliveira, engenheiro civil e presidente da Frente Parlamentar de Engenharia e Infraestrutura da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). O deputado ressaltou a parceria entre o Crea-PR e a Alep como um modelo de colaboração técnica voltado ao progresso. “Quando eu assumi o mandato, recebi do Crea-PR mais de 25 sugestões de projetos de lei relacionadas à área tecnológica. Hoje, 15 projetos da área estão tramitando, como o de fiscalização corretiva de edificações, o de incentivo para construção de obras que reduzem emissão de carbono e o de reorganização de fios de alta tensão”, comentou.

Firmado em março deste ano, o Acordo de Cooperação Técnica entre o Crea-PR e a Alep consolidou essa parceria. O objetivo é embasar tecnicamente as decisões políticas, por meio da troca de informações, desenvolvimento de estudos e ações conjuntas para subsidiar projetos de lei e políticas públicas nas áreas de engenharia, agronomia e geociências. Entre as novas frentes de trabalho está a fiscalização das concessões rodoviárias. Para contribuir com esse processo, o Crea-PR, em parceria com a Alep, desenvolveu um canal que permite aos cidadãos reportar irregularidades, fortalecendo o controle social sobre as rodovias. 

O painel também abordou os desafios das mulheres na gestão pública, especialmente em áreas historicamente masculinas. A engenheira civil Camila Scucato, primeira mulher a ocupar o cargo de secretária de Estado das Cidades do Paraná, defendeu que a superação desse cenário passa por competência técnica e posicionamento firme. “Eu consegui colocar engenharia e política na mesma balança e alcancei bons resultados a partir de projetos de valorização de engenheiros e de parcerias com universidades para tirar projetos do papel, solucionar problemas e melhorar a vida das pessoas”, relatou. Sob a gestão de Camila, a Secretaria de Estado das Cidades deu continuidade ao Programa Asfalto Novo, Vida Nova, que busca pavimentar vias urbanas de pequenos municípios e promover infraestrutura completa, incluindo galerias pluviais, calçadas acessíveis e iluminação pública em LED.